sábado, 21 de janeiro de 2012

Desrespeito a regras é muito comum, afirma ex-tripulante

O fato de comandantes de navios de cruzeiro desrespeitarem as regras e mudarem a rota das embarcações, a fim de navegar perto de encostas para homenagear familiares, amigos ou até mesmo pessoas a bordo, como fez o capitão do Costa Concordia, Francesco Schettino, é mais comum do que se pensa. A informação é do diretor da Fatto Brazil, Fabricio Britto, que trabalhou como tripulante em embarcações de passageiros durante 10 anos. Atualmente, ele oferece cursos de qualificação profissional para quem deseja ingressar nesse mercado.

“Eu já trabalhei em várias companhias e sei que alguns comandantes, por gracinha, querem passar perto a encostas porque as famílias deles ou de pessoas próximas a eles vivem nesses locais. Isso sempre foi feito”, afirma Britto, que começou sua carreira em 2000.

Com base em sua experiência, ele diz que não ficou surpreso ao ver as notícias de que Schettino se aproximou da Ilha de Giglio (na Itália), onde aconteceu o naufrágio, apenas para brincar com o chefe dos garçons do cruzeiro, Antonello Tivoli. Segundo o noticiado, Tivoli nasceu na região e estava em sua última viagem antes das férias.

“Eu não duvido que ele tenha feito isso porque tinha uns amigos lá, pois já vivi essa experiência em um emprego e a gente sabia do risco que corria. Na Costa de Sorrento (Itália), os navios passam muito próximos, apesar de existir essa regra de eles terem de ficar a (pelo menos) nove quilômetros de distância da costa”, destaca o diretor da Fatto, lembrando que a população local costuma saber que a embarcação passará por seu município.



“Eles desrespeitam as regras só para passar próximo da cidade. Já existe um acordo que é feito com a comunidade. Eles sabem que o navio vai passar em tal lugar, bem pertinho”,completou.

Britto se recorda de ter presenciado uma cena parecida no Brasil, quando estava na Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro.“Eu vi o Island Escape passando muito próximo (da praia) e logo imaginei que o navio não deveria estar dentro dos padrões”. Nesse caso, não há como afirmar se a aproximação do navio foi uma decisão do comandante.

Apesar das declarações, o empresário caracteriza o naufrágio do Costa Concordia como um acidente ou mesmo uma falta de esperteza do oficial. “Tem comandante que é mais esperto, usa tecnologia. Ele realmente foi muito desafortunado nessa manobra, nesse caminho que ele fez”.

Para o ex-tripulante, a única surpresa foi o fato de o comandante ter sido um dos primeiros adeixar o Concordia, antes mesmo de todos os passageiros terem sido socorridos.“Essa (tese) de o comandante ter chegado em terra antes de todo mundo não é uma atitude da Costa (Cruzeiros). A empresa sempre foi muito séria, rigorosa. Foi um acidente muito triste".

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